Quem casa quer casa. Longe da casa onde se casa.Em algumas situações de preferência bem, bem longe.
Inicio de vida nova, oficializada ou não, requer coragem e paciência. Encarar
as diferenças, aprender a conviver e principalmente fazer o seu primeiro estágio
como uma unidade convivendo com outra unidade.
Alguns poderão ter tido a sorte de ter
tido uma experiência de vivência longe da família de origem antes de encontrar a
pessoa com a qual decide dividir a sua vida. Outros terão a possibilidade até de um"test drive", um pré casamento de avaliação. Porém a maioria ainda seguirá a velha fórmula saindo direto da casa dos
pais para a nova vida, sem chance de se descobrirem de maneira mais profunda.
Namorar e noivar é uma coisa.Convivência diária é muito diferente. Aí emergem os conflitos e, a maioria deles, trazemos de casa , de nossa família de origem.
Porque, vivendo no ambiente da família estamos
expostos a influências das quais não tomamos consciência. Ou tomamos, nos
incomodamos até, mas ainda assim não conseguimos operar como uma unidade, nos diferenciando. Ainda
somos a repetição das fórmulas de relacionamento com as quais convivemos e que
desapercebidamente introjetaremos como nossas nas nossas próximas relações.
No filme História de nós dois (1999) existe uma cena antológica que resume bem o
que estou tentando dizer. Nesta cena o casal, já em vias de se separar, tenta
abrir diálogo pacífico, relembrando as tentativas de terapia de casal feitas e
lembram o analista freudiano que os adverte que na cama do casal na verdade
existem seis pessoas e não duas como poderiam supor.
O casal zomba do analista, mas em seguida começa a discutir acirradamente e repentinamente surgem outros interlocutores, os casais de pais de cada um, que na cama junto com o casal ,começam a interferir na discussão. Cada um com suas idiossincrasias, que fizeram dos seus filhos o que são, fazendo-os dizer e agir de acordo com o que aprenderam. Trata-se de uma alegoria perfeita da situação que se estabelece quando ocorrem os conflitos.
O casal zomba do analista, mas em seguida começa a discutir acirradamente e repentinamente surgem outros interlocutores, os casais de pais de cada um, que na cama junto com o casal ,começam a interferir na discussão. Cada um com suas idiossincrasias, que fizeram dos seus filhos o que são, fazendo-os dizer e agir de acordo com o que aprenderam. Trata-se de uma alegoria perfeita da situação que se estabelece quando ocorrem os conflitos.
E é assim que é, saímos de casa, com
toda a herança emocional e cultural de nossas famílias para unirmos nossas
vidas a alguém cujas heranças se assemelham ou divergem das nossas. Às vezes apenas em
alguns aspectos, outras, no entanto de maneira abismal.
Havendo possibilidade, como já foi pontuado, os
filhos podem ter tido a chance de se renovarem em suas respostas emocionais, se descobrirem além das
verdades e leis afetivas e comportamentais da casa paterna. Outros com menos
chance ou permissão interna, jamais conseguirão se distanciar, seguindo unicamente aquelas mesmas
regras que podem ser destrutivas. Como seus pais.
E estas regras interferirão profundamente
nas suas vinculações afetivas pelo resto de suas vidas.
É importante entender
que esta influência sempre estará lá , somos frutos de nossa dupla parental e
suas formas de amar. Aquilo que pode causar um comprometimento que irá influenciar negativamente
ou mesmo impedir que o sujeito estabeleça vínculos extra familiares saudáveis é justamente o tipo de troca que se
estabeleceu.
Existem
famílias ditas disfuncionais que carregam conflitos encobertos, camuflados em
meio as interações. Aparentemente tudo parece perfeito, as vezes até perfeitinho demais. No entanto estes conflitos sempre virão à tona quando as
relações extra familiares começarem a se estabelecer.
Casos extremos são de famílias simbióticas
e esquizoides.Nas denominadas simbióticas as relação que se estabelecem são de “devoramento”
onde membros da família são
"absorvidos" por outros membros dominantes, impedindo-os de desenvolver plenamente
suas próprias personalidades. O exemplo mais óbvio é a absorção do filho
por seus pais , de modo que a
personalidade do sujeito é simplesmente
um reflexo dos desejos dos pais.
Já nas famílias esquizoides ocorre o oposto,
as relações são frias e distantes ,não existe dialogo algum e manifestações afetuosas são quase banidas. Todos coabitam e
desenvolvem suas tarefas minimizando as trocas e convivência mútua como se
sentisse que a aproximação fosse ameaçadora. E é.
Em ambos os casos estaremos diante de um vinculação na qual a preponderância
é a ausência de diferenciação entre os membros.
Em ambos os casos os sujeitos não tem direito a uma existência individual e terão
grande dificuldade em desenvolver outros relacionamentos.

Outros sujeitos nem precisarão desta intervenção .
Sim, eles até conseguirão se relacionar relativamente bem, namorarão e até
casarão, mas irão carregar as regras e a sombra desta família de maneira tão
forte que será impossível desenvolver regras de adaptabilidade em sua nova
relação ou família uma vez que somente as interlocuções antigas serão possíveis.
O sujeito não consegue se reinventar como uma unidade. Na maioria das vezes este sujeito buscará um
conjugue que por suas dificuldades emocionais e submissão irá se adaptar com
mais facilidade se permitindo “fagocitar” pela família de origem.
Numa família funcional, a particularidade e a individualidade e as escolhas dos membros são reconhecidas e respeitadas. Já tanto nas famílias simbióticas quanto nas esquizoides isso não ocorre, ambas as vinculações são disfuncionais e destituídas de habilidades sociais competentes. As chances de fracasso nos relacionamentos externos à família serão notáveis.
Somos sempre fruto destas experiências e
aprendizados intra familiares e todos repetiremos consciente ou inconscientemente
as lições aprendidas em casa em palavras ou atos.
A maior ou menor capacidade e coragem de se auto conhecer e de se adaptar
, em suma de se reinventar na direção do encontro amoroso verdadeiro e funcional é que
denunciará as dificuldades das famílias de origem.
Aí teremos que nos ver com
estes diálogos ressentidos, como os do filme, onde jamais se chega a um acordo,
onde apenas se repete um modo de agir que nos foi ensinado de maneira rígida e
intolerante. Onde a única coisa que importa é uma demarcação de território onde a família mais forte é a que deverá imperar.
E onde há intolerância o amor não entra. E onde não existe amor, onde está a relação?
E onde há intolerância o amor não entra. E onde não existe amor, onde está a relação?
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