segunda-feira, 27 de dezembro de 2010 | By: Cinthya Bretas

Acho que isso não é amor


“O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato. O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço(....) O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e minha noite. Meu inverno e meu verão. Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte.”*



Você já se sentiu assim?Como se tudo lhe tivesse sido roubado, ou antes, como quer o personagem Joaquim de João Cabral de Mello Neto , como se tudo lhe tivesse sido devorado pelo amor?
Alguns amores devoram. Alguns amores destroçam. Nos tiram as noites e os dias .Nos exigem o corpo e  a alma.
Não importa o quanto você dê, jamais será o suficiente. Eles pretendem que sejamos simplesmente uma extensão. Não basta oferecer amizade, companheirismo,entender o mal humor , a pirraça, as inseguranças medonhas.Precisas estar disponível o tempo todo.Abdicar de si mesmo em prol da relação. Estes estranhos amores estão por ai como uma praga da modernidade. Acreditam na posse e jamais se questionam.  
Ele exige coordenar sua vida. Como andar, como vestir, aonde ir e com quem ir.   E o pior é que, muitas vezes, sem nos darmos conta, vamos paulatinamente cedendo. Em nome do amor. Da relação tão almejada, idealizada.
Aqui é importante parar e atentar. Não é mais em nome daquela relação, daquela coisa excepcional que vivemos com aquela pessoa. Já não é mais em nome daquele amor, mas em nome de um amor que não sabemos muito bem onde se encontra.
Talvez somente em nossa imaginação ou no nosso desejo de ter uma relação feliz. Dependendo do grau de relacionamento a coisa complica.
Namoros — algun­­­s — ainda podem ser repensados e reformulados. Tem tempo pra se refazer e virar algo produtivo e delicioso. Noivado, se já não foi corrigido a tempo, se não contou com investimento adulto, reflexão, conversa e teve sua devida reestruturação, está fadado a caminhar para um casamento infeliz. E o casamento... Este precisa passar pelos três estágios anteriores. Ou deveria, pra que pudéssemos saber exatamente em que solo estamos cultivando nossa tão almejada relação, que deveria ser somente na direção da felicidade. Ah, mas felicidade é algo tão distante e idealizado...mas é o mais próximo dela que deveremos desejar chegar sempre.
Por isso o casamento não pode ser no escuro. A dificuldade de falar, de contemporizar, em ceder e entrar em acordos não vai surgir depois de casar. E estas exigências desmedidas, depois do casamento passarão a se caracterizar como algo da ordem da obrigação.
O amante faminto que exige sua alma pra que a relação sobreviva, que solicita que viva só para ele, que desista dos amigos, da família, que se abra mão de todos os possíveis amores e atenções na vida que não sejam ele, agora no casamento sentirá uma necessidade insaciável de dominar por completo sua vida. Este parceiro desesperado, com fome de amor, na verdade faz um pedido de socorro, necessita preenchimento de uma falta que não poderá ser suprida, não numa simples relação a dois. Não, enquanto não puder ser feita uma reflexão profunda desta estranha necessidade de se apoderar do ser amado para se sentir completo. Enquanto não puder encontrar e encarar corajosamente a origem desta falta inexorável.  Ou então este amor será somente imaginação, tudo em vão.      


* As falas do personagem Joaquim foram extraídas da poesia "
Os Três Mal-Amados", constante do livro "João Cabral de Melo Neto - Obras Completas",Editora Nova Aguilar S.A. - Rio de Janeiro, 1994, pág.59..”

4 comentários:

Isabel Lepsch disse...

oi, Cinthya,coloquei este seu post no facebook e o MARCIO GENEROSO,meu amigo do FG, q mora na SUIÇA e trabalha numa clinica psiquiatrica lá,q parece uma fazenda, e cuida de autista, com equitação,teatro,música e pintura,CURTIU!!ele é mto legal!enviei pra váias pessoas...do FB...bjs...FELIZ ANO NOVO!!

Tereza Bittencourt disse...

... eu já sofri desse amor!
Depois de muito tempo, muitas estradas lamacentas, muita chuva batendo no rosto, ventanias me arrastando para trás, trovões clareando o caminho, chequei a uma porteira. Entrei, fechei a cancela, caminhei mais uns passos e empurrei a porta de uma casa escura. Entrei nessa casa, deixei toda a minha mochila do lado de fora... ela estava muito pesada e encharcada de coisas que eu não queria mais. Entrei, sentei perto do fogo e me aqueci. Não vi ninguém dentro desta casa... mas devia haver alguém, porque havia o fogo aquecendo. Dormi. Acordei descansada e seca. Lavei meu rosto com água gelada. Com muita alegria e tranquilidade, procurei por minha mochila e ví que algumas coisas importantes não tinham ficado danificadas. Sacudí a mochila e arrumei o que de melhor tinha restado nela.
Assim, de mochila renovada, a pendurei nas costas, amarrei meu casaco na cintura, prendi meu cabelo e com muita fome, voltei para o meu caminho. A fome era tanta que podia sentir o perfume de frutas e flores. E assim voltei a caminhar... e a encontrar e buscar novos destinos. Um ano novo abensonhado... Beijos, TT

Cinthya Bretas disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Cinthya Bretas disse...

Sempre podemos sentir o perfume das flores e frutas no caminho é só aguçar os sentidos , não é necessário se perder do caminho . Continue caminhando Tereza .Um ano cheio de luz !

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