terça-feira, 2 de novembro de 2010 | By: Cinthya Bretas

Casa de Espelhos


Este ser a quem você chama filho ou filha, não lhe pertence.
Você acredita que sim. Foi você que o colocou no mundo. Foi escolha sua..Ou não, ele veio sem planejamento ou por acidente.
Mas mesmo assim você insiste em se apoderar dele como de seu carro, seu apartamento, suas roupas e jóias.
Você acha que seu filho é alguma extensão sua como um braço, que você estende cheio de pulseiras e relógios luxosos para que os outros o invejem. Ou como um dedo que toca o mundo onde você não pôde, um pé que dá passos em direção ao que você não teve coragem de conquistar.
E é por ai que se constroem os laços entre as gerações. Por necessidade ou imposição, trilhamos caminhos e fazemos escolhas divergentes daquilo que almejamos e então, quando nos nasce a prole, almejamos por ela.
Que eles nos resolvam os medos. Que sustentem nossas projeções, que se habituem a nos preencher aonde não fomos capazes.
Há mães que sonham com o casamento das filhas como se este fosse o único sonho possível e, como se fosse seu próprio casamento que planeja desde o nascimento da menina, pretende escolher tudo, desde o namorado que, se aceito, devera se tornar noivo e marido com o qual a pobre deverá se arranjar e perpetuar  sob a pena de perder o amor materno que será negociado entre lastimáveis cenas de mal-estares.
E existem pais que querem que seus filhos ainda que sem entender porque nem como sigam seus passos profissionais. Ou seja, aquele que ele almejou um dia sem sucesso.
Pais que nunca ou quase nunca direcionaram aos seus filhos um segundo olhar.
Aquele que deveria ser o primeiro antes do suprimento único das necessidades materiais. Olhar que necessita ser o de curioso cuidado em desvendar aquele ser que ali está. Curioso cuidado em tentar entender que este suposto amor do qual se encobre o direcionamento impositivo, a intolerância com a diferença e a dificuldade em enxergar ali uma outra vida é destrutivo e que sim, este filho definitivamente não nos pertence.
Eles não são nossa miragem, nosso reflexo morto sobre o metal. Tem vida, desejam, e podem e tem o direito de escolher seu próprio caminho e superar-nos mesmo que em novas e impossíveis direções. Liberte-se e viva sua vida! Liberte-os e deixe-os ser. Apenas dê-lhes a base fundamental da ética, da educação e do afeto que sustenta, ampara e fortalece. E confie.
Autoria Cinthya Bretas

1 comentários:

rosa berg disse...

Não é fácil ser uma mãe liberada de projeções para que os filhos encontrem os seus próprios caminhos. Eu sempre fui assim. Apoiei cada um nas escolhas feitas, mas não nego que muitas vezes as tentações de interferir foram desesperadoras. Porém , consegui passar pelo caminho. Não vivo a vida deles. Sou colo e acolhimento quando necessário. Força quando me pedem e torcida sempre.

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