domingo, 12 de junho de 2011 | By: Cinthya Bretas

Quando se culpa unicamente os outros

















"Quando se culpa os outros, renuncia-se à capacidade de mudar."
When you blame others, you give up your power to change
- Douglas Adams

Mas é assim que infelizmente, a maioria de nós humanos age. O outro é o nosso álibi. Se a culpa não é nossa de quem seria? Se não estamos implicados nas conseqüências de nossos atos alguém precisa estar. Então culpamos o outro. Indubitavelmente 
Pensar em porque fazemos ou fizemos algo que falha, que não dá certo, é doloroso. Coloca-nos em posição de check-mate, na berlinda, pode perigosamente significar ter que reavaliar posicionamentos e defesas e ao final pode, ainda por cima, significar ter que abrir mão dos mesmos.
Se existe conflito, qualquer tipo de conflito, é sempre porque o outro... E ai leia-se, qualquer Outro. Qualquer um: Filho, pai, mãe, marido, irmão, tio, namorado, namorada, vizinho, colega de trabalho, qualquer um. Sempre o outro que não faz como queremos ou não pensa como achamos que deve. Que não fala o que desejamos, que não se veste como achamos certo, que não gosta do que deveria gostar... E aí se vão listas intermináveis de queixas sobre “defeitos” impossíveis de reparar. Porque se assim for feito o pobre outro terá simplesmente que se transformar... em um outro, outro. Um “outro” idealizado, perfeito, irretocável. Uma provável cópia das qualidades e da perfeição que o exigente acredita ter em si mesmo.

Sim porque o outro é que é o portador das mazelas do mundo e o sujeito que exige, para quem nada nunca está a contento, é a outra face da moeda. A face polida e brilhante que reluz em meio à escuridão da turba ignata.

Não existe mediação, somente polaridade. O que resulta em uma constante guerra. Todos ao teimosamente não refletirem o ideal de perfeição inalcançável exigido estão contra, ou pior, induzem a erro. O outro confunde, o outro propicia e assim responsabilizamos aos outros pelos erros que cometemos. Fomos levados ao erro pelo outro. Por nossa própria conta jamais erraríamos!

Desta maneira vive-se em guerra, de estopim curto. Qualquer motivo é propício a uma discussão. Discutem-se preferências objetivas e todas as subjetividades sempre resultando em oposição. Gostos pessoais diferentes dos nossos, serão execrados e repelidos como uma doença. Tudo o que é não Eu é ameaçador. E tudo que difere será origem justificadora da culpa e do erro. Ai começa o imbróglio.
Neste olhar o outro será sempre encarado como antagonista e é sob este olhar que se estabelecem as bases desta peleja cotidiana, na qual, para não perdermos nossa posição defensivamente nos colocamos sempre como sujeitados.
 Coletamos todas as falhas e depositamos em um único receptáculo: o sujeito mais próximo e que algumas vezes nem imagina que esta sendo culpabilizado. Às vezes incrivelmente nem sabe que algo andou acontecendo que demandava feitor da obra mal acabada.
Fica mais fácil, convenhamos que alguém assuma por nós o peso de nossos equívocos.  Isolamos-nos num pedestal inatingível sem negociações e sem dano ao nosso ego inflado e onipotente ou desnutrido e esvaziado. Ego faltoso que, em qualquer maneira com que se expresse, refletirá a mesma pendência e a condição faltosa compensada por posições, ora passivas — de vitima da falha alheia— ou agressivas— de opositores diante dos que teimam em se ausentar das solicitações pleiteadas. Temos um triste impasse de quem não pode abrir mão de opiniões ou posições sob o risco de perder a si mesmo. Eis a rigidez caracterizada e personalizada que gradativamente se instaurará no próprio corpo em patologias diversas.
Criou-se um muro que os separará do mundo. Acabou-se a comunicação. Porque para haver comunicação é preciso estar disponível à mediação. Mediar é buscar o caminho do meio. Aquele onde os Certos e os Errados inexistem. As verdades absolutas se “desabsolutizam” para poder trilhar este caminho. Apenas existem verdades parciais, oriundas de vivências dessemelhantes. Lá uma larga e acolhedora ponte une condições diferentes entre seres desiguais. A ponte da disponibilidade afetuosa que sabe que no amor não existem vencedores.

Com sorte este sujeito do qual falamos, do totalitarismo, da frieza perfeccionista terá sua chance de aprender, acabará diante da solidão e assim terá a oportunidade fabulosa de se repensar. Caberá fazer algum trabalho sobre a própria consciência na tentativa de entender o que fez com que ficasse ao final assim sozinho. Este será um trabalho árduo num doloroso caminho para quem o reaprende sozinho. Um trabalho que se tivesse tido sido empreendido antes poderia ter evitado a dor da rejeição. Mas por fim não será que foi o próprio medo da rejeição e da solidão que o fez criar tantas defesas? Afinal, debelar as altas paliçadas, profundos fossos e amplas fronteiras que erigimos entre nós e o entendimento, entre nós e a consciência, entre nós e um possível contato caloroso e intimo é um processo sofrido, exige disponibilidade e humildade. Por isso, por tanto tempo o pobre preferiu estar certo e o outro, jamais. Agora, desce-se do pedestal da intolerância e torna-se finalmente humano e passível também de erro. 

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