sábado, 4 de dezembro de 2010 | By: Cinthya Bretas

Briga entre Irmãos

Briga entre Irmãos
As atitudes mais comuns dos pais e suas complicações
 Alfredo Castro Neto*

   Recentemente, por ocasião do Encontro Anual da Associação Psicológica Americana, um grupo de pesquisadores da Universidade de Michigan, comandados pela drª Sandra Graham-Bermann procurou provar que as relações conflituosas entre irmãos, marcadas por brigas freqüentes e violentas, podem deixar, como legado, na fase adulta, problemas psicológicos duradouros.
   Na verdade, é normal que irmãos briguem, de vez em quando, durante a infância, mas aqueles que se engajam em conflitos violentos e freqüentes fatalmente experimentarão, no futuro, problemas emocionais duradouros como ansiedade, depressão e auto-estima baixa, independentemente da posição de vítima ou agente dos atritos.

      As pesquisas
   Pesquisas comprovam que as crianças mais velhas são as que mais abusam dos irmãos menores, da mesma forma que as meninas, mais do que os meninos, são vítimas de abusos físico e verbal por parte de irmãos mais velhos.
   Um estudo feito com cerca de 1.700 universitários de Michigan, mostrou que um em quatro estudantes teve, pelo menos, um problema sério de briga com irmãos na infância. Dos estudantes que participaram da pesquisa, 8% se disseram provocadores de brigas. Uma percentagem igual de participantes se revelou vítimas de sérios abusos por parte dos irmãos, enquanto 7% dos universitários afirmaram ser responsáveis por metade das brigas travadas com irmãos.
   Parece ser extremamente difícil persuadir as crianças de que não é agradável bater em pessoas mais fracas. Mas concebe-se que, sob certas condições, elas se persuadirão de que tal comportamento não é apreciável.
   Cada pai ou mãe tem, à sua disposição, um certo número de castigos que vão desde os extremamente suaves até os extremamente severos. Na verdade, quanto mais severa a ameaça, mais a possibilidade de que o menino corrija o seu modo de ser, enquanto o estiver vigiando. Mas ela pode muito bem bater no seu irmão tão logo lhe vire as costas.
   Suponha, entretanto, que o ameaça com um castigo suave ou severo. Em qualquer dos casos, a criança experimenta uma dissonância. Ela sabe que não deve bater no irmão menor e sabe que gostaria muito de bater nele. Quando a criança tem ímpetos de bater no irmão e não bate, faz a si mesma a seguinte pergunta: “Por quê não estou batendo no meu irmão?”.
   Sob uma ameaça severa, ela tem uma resposta pronta, na forma de uma justificativa externa: “Não estou batendo nele porque se o fizer meu pai vai me dar umas palmadas, me pôr no canto e me proibir de ver televisão durante um mês. Portanto, a ameaça severa forneceu à criança uma ampla justificativa externa para não bater no irmão enquanto estiver sendo vigiada.
   Por esse motivo, se dermos às crianças a oportunidade de construir suas próprias justificativas internas pode ser um longo caminho para ajudá-las a desenvolver um quadro permanente de valores.
   As famílias que parecem ter as crianças menos agressivas aparentam ser aquelas onde se pratica uma combinação de não-permissividade, não-punição e não-rejeição. Elas tentam evitar o desenvolvimento de situações potencialmente explosivas e evitam as discussões e brigas separando as crianças antes que elas comecem a brigar; mas quando ocorre uma agressão não são severamente punidas.
   Na verdade, a punição pela agressão em si não a diminui. Compreendo que muitos pais pensam que surrar uma criança porque ela bateu no seu irmão é uma forma eficiente de contornar a situação e que isto torna a agressão menos provável da próxima vez. Mas parece não ser isto o que ocorre.
   As crianças que foram, consistentemente, punidas por suas agressões podem, de fato, ser mais agressivas do que as que não foram punidas, por ser a punição uma forma de frustração que provoca futuras agressões ou por esta ser, em si, uma forma de agressão: “Quando a mamãe está zangada, ela bate em mim, então quando eu estou zangado eu, também, posso bater”.
   Os pais que usam castigos severos para deter a agressão de uma criança, tendem a ter filhos que, não sendo muito agressivos em casa, apresentam uma grande dose de agressão na escola e nas brincadeiras fora de casa.
   Por outro lado, a permissividade em relação à agressão parece exibir uma relação mais estreita com a agressividade. As crianças cujos pais são permissivos em relação à agressão – que a toleram, ao menos dentro de limites – são mais passíveis de ser mais agressivas do que as crianças cujos pais não a permitem.
   As mães que permitem a agressão de seus filhos – física ou verbal – em relação a si próprios, têm filhos que são, consistentemente, mais agressivos durante toda a infância e idade adulta, enquanto que aquelas que não a permitem parecem ter filhos que inibem a agressão, tanto durante a meninice quanto na idade adulta.
   A punição é, freqüentemente, efetiva na redução da quantidade de expressão agressiva, porém, como já frisei, os efeitos da punição dos pais sobre o comportamento agressivo das crianças são complexos, porque à medida que os pais punem, fisicamente, seus filhos, com a finalidade de inibir seu comportamento agressivo, também estão servindo de modelo agressivo.
   Sabemos que agressividade é inerente ao ser humano, pois tem conotações construtivas e destrutivas. Ao mesmo tempo que pode interferir nas relações entre as pessoas e prejudicar a capacidade do indivíduo para cuidar de várias tarefas, pode, também, servir para aumentar todas as facetas da vida. É ingrediente da ambição; é necessária ao desenvolvimento de todas as habilidades; é necessária, também, quando vários potenciais de energia devem ser utilizados. Quanto à criança, lhe é necessária a fim de poder recorrer a esse manancial de energia para aprender a ler, calcular, escrever, brincar, andar de bicicleta e, mais tarde, alcançar sua autonomia.
   As pesquisas têm demonstrado que os conflitos entre irmãos nem sempre refletem um relacionamento conflituoso dos pais. Entretanto, os pais precisam manter os olhos abertos e intervir, buscando ajuda do especialista caso se sintam impotentes diante do problema.
Fonte http://www2.brasil-rotario.com.br/revista/materias/rev938/e938_p26.html


* O autor é psiquiatra infantil e membro do Conselho
Consultivo da Abenepi – Associação Brasileira
de Neurologia e Psiquiatria Infantil – RJ.

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