sexta-feira, 22 de outubro de 2010 | By: Cinthya Bretas

Quando o amor desanda

Grande parte (talvez a maioria) das pessoas procuram-se por causa de diferenças complementares (que existem, e como!) que depois crescerão até distanciá-las. Há uma percepção antecipada  do que é falta, carência e insegurança nos nossos núcleos internos. 
Procura-se, então, quem tem ou parece ter o que nos falta. No começo é ótimo. Depois... Babau, embora haja relações que se baseiam a vida inteira nessas diferenças que se  complementam. 
 A união entre duas pessoas - quando não é amor, mas nele se camufla - é a complementação de necessidades que, num dado momento da vida de cada um, parecem essenciais para a solução de suas dores, mágoas ou carências. Amor é deveras confundido com "necessidades complementares".                                     
O progresso interior ou amadurecimento de apenas um dos membros do par amoroso, torna ainda mais instável a relação porque dela retira o caráter complementar que a mantinha. Dois espelhos, um defronte do outro, geram imagem infinita. Um só espelho reflete apenas a imagem de quem se olha. Olhar e ver o outro aplaca. Olhar e apenas ver-se é, para muitos, insuportável.
Quando a evolução de uma das pontas do par amoroso dá-se de maneira mais rápida que a da outra, esta não tem mais em quem projetar as suas ansiedades. Uma parte já não aceita as cargas da outra, antes  assimiladas por imaturidade, medo ou dependência econômica. 
Aí o  equilíbrio do par se abala. Ou rompe.                             
Por evolução não se entenda apenas a intelectual. Esta é importante, porém não decisiva. Numa pessoa, há vários núcleos internos que podem ganhar graus ou ritmos evolutivos diversos: emocional, sexual, profissional, espiritual, físico, econômico, político. 
 Somos seres variados, plurais. Nossa arquitetura interior possui elementos de vários estilos e escolas. Englobamos e amealhamos,  tendências díspares, propostas diferentes em nossos vários núcleos interiores. Assim, em nossa relação mais profunda, que é a íntima, cada núcleo interior seja, intelectual, emocional, sexual, profissional, espiritual, econômico e político pode vir   a ter ritmos diversos de evolução. 
 Somos seres tão estranhos, que podemos passar por evoluções intelectuais formidáveis e permanecer anos a fio estacionados ou  cristalizados em outro núcleo emocional. Podemos evoluir emocional, profissional e politicamente e permanecer estacionados sexualmente, e   repetir antigas, estacionárias ou primárias formas de exercício do instinto sexual. E assim por diante. É muito difícil evoluir por igual em todos os nossos núcleos interiores. Por isso desandam tantos casos  de amor depois que se resolvem com a união das pessoas.

              Artur da Távola

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