sexta-feira, 3 de dezembro de 2010 | By: Cinthya Bretas

Confiança e Intimidade


Intimidade e o aconchego talvez, depois da fidelidade, sejam alguns dos atributos mais almejados dentro de uma relação a dois.
Acredita-se que seja algo que surja naturalmente no desenrolar do convívio. Porém ela não decorre do partilhar de trivialidades cotidianas como freqüentar o mesmo banheiro ou dividir a mesma escova de dentes (eca!) e a mesma cama diuturnamente. Tampouco implica ter a senha do caixa eletrônico ou da caixa de e-mail, aliás, a posse inadvertida desta última sem autorização prévia configura muito mais invasão de privacidade.
Da mesma maneira poucas vezes resumirá a extensão e intensidade da atividade sexual entre o casal. O filme francês Intimacy do ano de 2000, ilustra claramente esta disparidade. Dirigido pelo diretor Patrice Chéreau o filme traz a narrativa de um casal cuja intensidade dos encontros sexuais faz oposição à completa ausência de conhecimento mútuo e onde esta completa exclusão de intimidade gerará um mal estar ser remédio para a relação.
Portanto se a intimidade não decorre do partilhar cotidiano ou do partilhar de corpos o que realmente compõe a intimidade?
Em quase todas as culturas o sentimento de intimidade decorre além de suas normas particulares de privacidade,aos sentimentos de afeto entre os parceiros. E os sentimentos de afeto necessitam estar imersos no principio fundamental da fidelidade.
Mas esta é uma equação complicada uma vez que paradoxalmente nem sempre os afetos permeiam as relações verdadeiramente e que a capacidade de partilhar e confiar dentro de uma relação é um aprendizado contínuo.
Se fossemos equacionar a intimidade seria necessário primeiramente lembrar de sua “consangüinidade”. Porque sendo ela prima irmã da cumplicidade é gerada a partir do par biunívoco confiança e da sinceridade. Confiança e Sinceridade. Princípios básicos e para muitas pessoas um ideal quase impossível de ser alcançado. 
Mas o que está por trás desta inabilidade em confiar ou em se comportar de maneira confiável? Assim como em todas as nossas formas de nos relacionarmos afetivamente a capacidade de confiar e de ser confiável resultará das trocas primordiais que o sujeito teve e que foram ou não validadas em sua posterior trajetória de vida. Portanto esta incapacidade, quando é o caso, esta necessidade de estar sempre mentido e traindo, é a distorção de um principio necessário e fundamental a nossa subsistência enquanto humanos; de poder acreditar que o outro poderá nos ajudar, salvar, apoiar, consolar quando assim necessitarmos.
E se esta capacidade está perdida em seu repertório emocional provavelmente será em decorrência de um aprendizado sofrido e truncado em sua história pessoal. Disto também virá a impossibilidade de aceitar as diferenças no outro, de poder falar de seus sentimentos, de acreditar no amor do outro, todas, capacidades implicadas no poder confiar.
 Da mesma maneira a capacidade de oferecer aconchego, se sentir a vontade e a capacidade de vivenciar a descarga energética conhecida como orgasmo de maneira plena, tanto para homens como para mulheres só ocorrerá se a capacidade de confiar estiver intacta. Esta capacidade começa seu desenvolvimento ainda quando somos pequeninos e estendemos nossos bracinhos para aqueles que nos cuidam.É uma memória que traremos ,boa ou má, gravada em nivel  celular para o resto de nossas vidas afetivas.
Traumas, cultura, educação, são, portanto, fatores que modulam nossa capacidade de entrega ao outro que reconhecemos a partir do par sinceridade e confiabilidade e que nos habilita a experienciar a tão almejada intimidade que nos proporciona aconchego e capacidade orgástica plena.
Então isto explica? Explica, mas não justifica. Todos nós em maior ou menor grau estivemos em contato com situações traumáticas, fomos atravessados pela cultura e tivemos nosso quinhão de leis internas geradas pela educação que tivemos, porém alguns de nós a despeito disto lutarão para atravessar esta cortina de enganos que o separa do exercício da entrega dentro da relação afetiva.  E conseguirão  alguns tendo a sinceridade de pedir ajuda, outros demorando mais tempo, estendendo o sofrimento além do necessário. Mas todos, poderemos, em maior ou menor grau nos despir do desnecessário entrave a intimidade e alcançar a nossa razoável partícula de  satisfação no Amor . Quer tentar?

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