quinta-feira, 30 de junho de 2011 | By: Cinthya Bretas

Fobia Social ou timidez mais do que patológica


Medo

O termo fobia deriva da palavra grega phobos, que significa terror e medo extremo. Na Grécia antiga o deus Phobos era encarregado em causar medo em seus inimigos e, assim, ajudar seu pai, Ares, o deus da guerra.
Hoje  Fobias é o nome atribuído as varias patologias do campo psíquico decorrentes de distúrbios ligados ao medo e a evitação. Existem vários tipos de fobia todas elas limitantes e causadoras de muito sofrimento. Principalmente porque algumas pessoas sofrem de fobias e sequer se dão conta que seus medos extrapolam a normalidade. Iremos falar de algumas delas para ajudar aqueles que apresentam seus sintomas a criar coragem para retirá-las de vez de suas vidas.

Fobia Social

            Hipócrates, segundo a descrição de Burton em seu Anatomy of melancholy, foi o primeiro a referir-se à ansiedade social, porém o termo fobia só foi utilizado nos textos médicos do século XIX, recebendo então o conceito de medo extremo, que se manifesta fora de qualquer proporção ao estímulo desencadeador e que não pode ser explicado, resultando sempre na esquiva ao objeto temido.

A fobia social é aquela na qual o sujeito se sente humilhado ou agredido em todas ou algumas  situações especificas da vida diária,  levando-o a uma conduta de  evitação de certas atividades e criando assim uma certa solidão. 
É natural que maioria de nós sinta  timidez e nervosismo em certas interações sociais ou no trabalho, mas para uma pessoa com ansiedade e/ou fobia social ocorre um medo paralisante de ser humilhado. A ansiedade é tão grande que torna-se debilitante.Costuma ser  gerada quando o paciente é submetido à situações em que concretamente ou ficticiamente ( em sua imaginação) está exposto à avaliação de outras pessoas. 

Características que chamam atenção:

  •      Os fóbicos sociais se aborrecem em reuniões sociais, procuram ficar perto da porta,se escondem, ou se encarregam de tarefas discretas que os coloquem à margem da reunião.;
  •      Tem dificuldade em fazer valer seu ponto de vista ou de reclamar diante de algum problema;
  •      Dificuldade com chamadas telefônicas, atender ou ligar;
  •      Dificuldade em quaisquer tipos de negociação;
  •      Evitam ser apresentados, se destacar em publico como por exemplo respondendo a perguntas em aula;
  •      São reticentes em visitar centros de convenção, feiras ou lugares com grande aglomeração
  •     Sentem-se muito mal em serem alvo de atenção e suposto julgamento;
  • tem dificuldade com pessoas em grau hierárquico superior, inclusive em manifestações que podem ser interpretadas como agressividade


A fobia social apresenta-se em dois tipos básicos: a circunscrita e a generalizada. A primeira permanece restrita a apenas um tipo de situação social a qual a pessoa teme e que, em geral, é ligada ao seu desempenho, por exemplo,prestar exames de avaliação, escrever na frente de outros etc. No restante das situações sociais no entanto não apresenta qualquer tipo de inibição exagerada.
O segundo tipo é a fobia social generalizada, caracterizada pelo temor a todas ou quase todas situações sociais. Além das situações acima citadas, é comum o paciente temer paquerar, dar ordens, telefonar em público, trabalhar em frente a outras pessoas, encontrar estranhos, expressar desacordo, resistir a um vendedor insistente, entre outras situações sociais comuns. E ainda poderá apresentar medo de falar em público, de fazer prova, comer em público, assinar documentos na frente de outras pessoas, utilizar mictórios públicos, dirigir-se a pessoas de autoridade etc.
A fobia generalizada pode levar a um comprometimento no bem-estar geral, com um índice alto de comorbidades como a depressão e abuso de álcool,de drogas .Pode ter origem familiar e seu curso costuma ser crônico se não reconhecida e tratada a tempo.
A esquiva social é uma característica importante para o diagnóstico e, em casos extremos, pode resultar em um total isolamento social.As fantasias e medos de estar sendo julgado e observado a aproximam ao delírio paranóico .
Assim observa-se que é comum que se desencadeie uma crise cada vez que o individuo se defronta com o convívio com pessoas fora do circulo familiar ou que necessita se submeter a algum tipo de avaliação ou mesmo quando em situações nas quais ele se julga alvo de avaliação pelos outros.  
A crise é flagrante no convívio com pessoas não-familiares, mesmo que  rápido, como os poucos minutos em que se é apresentado a alguém, ou demorado, como participar de uma reunião social.
Entretanto, ocorre também com pessoas conhecidas, caso hajam situações extensas como quando fazem alguma brincadeira ou “gozação” que para o individuo com fobia social é insuportável ou pela exposição demorada numa festa.  O termo “exposição” é apropriado porque a pessoa se sente exposta e observada. Existe um quadro fantasioso e mesmo delirante sobre o que ela supõe que esta sendo pensado ao seu respeito ao ser apresentada a uma única pessoa ou participar de uma reunião social.  Mesmo a comunicação a distancia gera medo e é comum desligar o telefone ao ouvir uma voz desconhecida do outro lado. Os fóbicos sociais não costumam atender o telefone de casa.
Qualquer situação em que haja demanda de desempenho pode ser desencadeadora de crise. Podem ser  situações objetivamente simples, como preencher um formulário diante de alguém ou comer um sanduíche numa lanchonete. Ou situações mais complexas, como participar de reuniões  de trabalho fazer apresentação de relatórios ou entrar em contato direto com alguém hierarquicamente superior .A simples antecipação de qualquer dessas situações, ou seja,só de pensar , de se imaginar em alguma delas é o bastante para desencadear um ataque.

As complicações socioeconômicas e familiares decorrentes induzem a gastos excessivos, por parte dos pacientes, com médicos e exames complementares, muitas vezes dispensáveis. Afastamento do trabalho, absenteísmo, impossibilidade de aceitar promoções (por medo de assumir maiores responsabilidades) e até pedidos de demissão são situações corriqueiras na vida desses pacientes, sobretudo se o paciente não é diagnosticado precocemente. Somando-se a esses fatos há uma deterioração econômica progressiva. Socialmente, a sucessiva recusa a convites recebidos gera afastamento e perda dos contatos sociais.

A fobia social pode ser tratada por meio de medidas psicoterápicas e farmacológicas, sendo o ideal a combinação de ambas. No que tange ao relacionamento familiar, o paciente recebe inicialmente os cuidados dos parentes mais intimamente envolvidos. Após várias “peregrinações” a consultas médicas, cujos exames, persistentemente, não demonstram existência clara de um transtorno, os familiares adotam atitude de estímulo para que o paciente mude de comportamento. No decorrer do tempo, o mesmo passa a ser alvo de críticas desferidas não só pela família como também por amigos, as quais, infelizmente, só contribuem para o agravamento da situação.


Quadro Clinico

Os sintomas da fobia social são desproporcionais à situação temida e costumam ser acompanhados por sintomas somáticos agudos, tais como palpitações, tremores, sudorese, tensão muscular, boca seca, náusea, diarréia ou dor de cabeça. Os pacientes apresentam também rubor, tremor e urgência urinária, e interferência significativa no funcionamento social ou ocupacional normal.

            Outra característica clínica importante é a ansiedade antecipatória, em que os pacientes ficam muito ansiosos com a perspectiva da exposição à situação temida. Mais comumente, os sintomas de ansiedade levam o indivíduo a se esquivar dessas situações, acarretando complicações como o isolamento social.


 Existe um diagnostico diferencial entre a fobia social e a ansiedade social. Pode-se falar de ansiedade social normal, contrastando-a com a ansiedade social anormal ou patológica – a fobia social ou o transtorno de ansiedade social.
A ansiedade social é uma sensação difusa e desagradável de apreensão, que precede qualquer compromisso social novo ou desconhecido ou diante de qualquer situação em que o paciente é submetido à avaliação de outras pessoas. Esta é uma resposta inadequada a determinado estímulo, em virtude de sua intensidade, duração e sintomas. Diferentemente de uma ansiedade social normal, a patológica paralisa o indivíduo, traz prejuízo ao seu bem estar e ao seu desempenho e não permite que ele se prepare e enfrente as situações ameaçadoras.
Já a fobia social é o medo patológico, paralisante de comer, beber, tremer, enrubescer, falar, escrever, enfim, de agir de forma ridícula ou inadequada na presença de outras pessoas. De modo geral esses pacientes com Ansiedade Social ou Fobia Social começam a evitar situações sociais que provocam respostas ansiosas desagradáveis e, por trás dessa evitação, surgirá uma sensação de alivio da resposta ansiosa, juntamente com sentimentos de culpa por não estar conseguindo enfrentar o problema eficientemente.
Cada conduta de evitação reforça a fobia e promove sua manutenção, de tal forma que, não tratada, a Fobia Social tende a ser crônica e incapacitante.
Com respeito ao Transtorno da Personalidade por Evitação, perfeitamente identificada com inúmeros casos de timidez, também se nota uma forte tendência de evitação para aliviar a ansiedade antecipada por situações sociais entendidas como difíceis. No caso desse Transtorno da Personalidade por Evitação, a evitação se caracteriza por ser generalizada, comportamental, emocional e quase incontrolável.
A evitação nessas pessoas que sofrem de Transtorno da Personalidade por Evitação é ativa, ou seja, elas experimentam um grau importante de ansiedade interpessoal, temem ser rejeitadas e humilhadas e, por isso, evitam ativamente as situações interpessoais.
Pois bem, será esse o ponto principal e definitivo que relaciona o Transtorno da Personalidade por Evitação com a Adicção à Internet; essas pessoas, mesmo evitando ativamente o relacionamento social cotidiano e concreto, desejam estabelecer relações interpessoais via Internet.

Comorbidade com  Depressão


Versiani e Nardi (1994) observaram, nos pacientes com Fobia Social, uma alta freqüência de quadros depressivos, como a Depressão Maior, presente em 29,6% dos casos e a Distimia, em 18,4% (Tabela 3). Há autores que encontraram 38% de Depressão co-mórbida em pacientes com Fobia Social, assim como 35% relatados por Stein e cols (1996). De forma inversa, entre os pacientes com Transtornos Depressivos, os distímicos apresentavam Fobia Social em 27% dos casos e 15% dos portadores de Depressão Maior também tinham esse tipo de fobia (Sanderson e cols., 1990).
De fato, os pacientes deprimidos costumam restringir suas atividades sociais por causa da perda de interesse, de prazer ou de disposição e não, exatamente, dos sintomas ansiosos ou  fóbicos. Mas existem autores que relatam a presença de sintomas depressivos em até 50% dos pacientes com Fobia Social. A comorbidade entre Fobia Social e Depressão fica mais claramente visível na medida em que esses quadros respondem muito bem ao tratamento com antidepressivos. Da mesma forma em que a Depressão Maior costuma ser freqüente na Fobia Social, precisa-se investigar também a presença dessa fobia em pacientes que se apresentam com quadro depressivo.

A origem

Recentemente pode-se suspeitar que os fóbicos, de maneira geral, tendem a apresentar alguns traços de personalidade em comum. Normalmente, são pessoas que tiveram uma educação rígida, estimuladora da ordem, da conseqüência e do compromisso.
As pessoas mais afetadas pela fobia social são os homens, ao contrário da maioria dos transtornos de ansiedade que predominam sobre as mulheres. O início é indefinido, por ser muito gradual, impossibilitando os pacientes a identificarem até mesmo um ano em que este problema tenha começado. Na grande maioria das vezes o início é localizado na época em que começaram a se dar conta de que eram mais tímidos do que os outros, ou seja, na infância ou adolescência. 
Ainda que não tenham sido descritos casos na fobia social com inicio após os trinta ou quarenta anos de idade, não significa que não possam surgir nesta faixa etária . 
São pessoas excessivamente preocupadas com o julgamento alheio, com a opinião dos outros a seu respeito, são perfeccionistas e determinados. Traumas que ameaçaram o Ego do individuo são com certeza um bom ponto de partida na investigação de sua origem.
Geneticamente já se sabe que os filhos de pais fóbicos têm 15% de possibilidade de perpetuar o comportamento na idade adulta.


Referencias:
Nardi AE. Transtorno de ansiedade social: fobia social – A timidez patológica. Rio
de Janeiro: MEDSI; 2000.
Nardi AE - Comorbidade: depressão e fobia social, Psiq Prat Méd - volume 34, número 2, abr - jun 2001.

Sanderson WC, Beck AT, Beck J - Syndrome comorbidity in patients with major depression or dysthymia: prevalence in temporal relationship. Am J Psychiatry 1990;147:1025-8. 
Versiani M, Nardi AE - Social phobia and depression. Depress Anxiety 1994;5(2):28-32.


2 comentários:

Telma Lúcia de Lemos disse...

Artigo muito bom, esclarecedor.Pra complementar, eu diria que essa espécie de fobia é apenas uma das formas inadequadas dos chamados mecanismos de defesa. E esta inadequação, essa defesa mal feita atinge uma generalidade da população, é o que se denomina neurose. Uns são mais tímidos, perfeccionistas ou rígidos, são os mais "certinhos" gerando um medo, uma fobia mais direta, digamos assim. Outros, mais expansivos, têm outro tipo de dificuldade. O certo é que qualquer desses transtornos causam profundo sofrimento. E praticamente atinge a quase todos nós. Solução? Conhecimento, discernimento, maturidade, perdão, humildade. Amor! O amor dirime todo mal, torna tudo mais calmo e plano. Amor e compreensão. Vontade de se sentir bem, de viver bem! De não julgar o outro, nem a si. Mansidão. Enfim, acolher todas aquelas, tsntas vezes repetidas, lições sobre uma existência plena e saudável.

Cinthya Bretas disse...

Obrigada pelo comentário! Sim, Telma é mais um mecanismo de defesa, todas os sintomas ocorrentes nas manifestações de sofrimento psíquico sempre serão . No entanto discordo quanto a serem inadequadas. Afinal elas, bem ou mal, funcionam. É la o jeito que o aparelho psíquico deu para dar conta de seu sofrimento e cumpre a função perfeitamente. Inadequado seria se não desse conta . Como nas psicoses por exemplo, quando diante da ideia conflitante que causa sofrimento extremo o aparelho psíquico incapaz de suportar da exigência que lhe é feita, escolhe cindir. Concordo que o Amor é oque possibilita a transformação e a cura. O próprio Freud descobriu isto e escreveu a Jung:A Psicanálise é, em essência, uma cura pelo amor.”. Ela quando é bem feita ajuda a retornar ao amor. Propicia a descoberta de onde ele esteve ausente e fortalece para permitir reaprender esta que é a essência da vida.

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