terça-feira, 26 de outubro de 2010 | By: Cinthya Bretas

Toda relação é um encontro, porém nem todo encontro é um relação.


Todo encontro entre duas pessoas será necessariamente um evento de trocas. Um evento de trocas que poderá ser considerado uma relação ou não. Poderá ser somente um encontro destituído de consciência ou uma verdadeira relação que gerará reflexão, que ampliará o autoconhecimento, que exercitará a tolerância e que deixará um forte legado de modificação em nosso ser. Quais as chances de que um encontro se transforme assim numa verdadeira relação?Toda relação é um encontro entre duas pessoas, no entanto a qualidade, intensidade, importância e poder de transformação que daí decorrerá, estará diretamente proporcional à qualidade, intensidade e importância das trocas anteriores na vida de cada um dos sujeitos envolvidos e dependerá principalmente das trocas afetivo-corporais que se deram desde o momento de concepção deste individuo.Se estas trocas foram em sua maioria positivas e estruturantes, a chance de que a busca e a escolha de revalidação destas experiências se dê na direção de outras de colorido semelhante é natural, porém estranhamente se a qualidade destas trocas for de negatividade impactante, desagregadora e desestruturantes então a chance da mesma busca de reprodução através de relacionamentos que repitam os mesmos padrões... Duplicam, triplicam!Mas como seria possível buscar repetir algo que nos causa sofrimento? Qual estranho princípio é este que leva o individuo a buscar repetir alguma situação desagradável e o pior, sem se dar conta disso? Toda relação é uma pista de provas, toda relação é espaço de aprendizagem. Encontramo-nos e associamo-nos àqueles com os quais necessariamente teremos experiências que contribuirão para alguma necessidade estabelecida pelo nosso inconsciente. E muitas vezes esta necessidade é uma necessidade de defender o Eu. Mas defender do que? Do sofrimento. Repete-se algo na tentativa de extirpar este algo que dói de nossas vidas. E estranhamente repete-se este algo que nos doeu ou faltou desde a relação parental mais precoce, nas próximas relações todas pelo resto de nossas vidas. Cada momento feliz ou infeliz será projetado e perseguido incessantemente nas nossas escolhas amorosas. Mas que se entenda, sendo ele infeliz será projetado porque não está consciente, porque está como que encoberto, desconhecido, amortecido e mascarado em nossas recordações para nos defender da dor e assim nos empurrar sempre e sempre em direção a situações que nos façam repetir e recordar. Por que a memória do sofrimento quer ser acessada, para ser pranteada, para que possamos saber que fomos mais fortes que ela, que estamos aqui, sobreviventes e para que seja liberada nos permitindo assim novas maneiras de amar. Não importa se fomos abandonados, se sofremos violência, desrespeito, abuso, o corpo e a alma clamam pela cura das feridas mesmo que usando uma linguagem às avessas.Ou seja, toda relação se constrói a partir da história de vida afetiva de cada um dos amantes. Quão mais conturbada foi, quanto mais será posteriormente a vida afetiva do adulto. Amor ideal seria aquele que pudesse se dar a partir de uma construção separada destas projeções criadas a partir das relações parentais, seria aquela na qual cada individuo da parelha criasse sua vinculação por escolha consciente gerando uma relação na qual as vidas corressem lado a lado e nunca acorrentadas. Ambos vivendo a relação como ela deveria ser com liberdade para vivenciar o amor com respeito às diferenças e escolhas individuais. Espaço de trocas e crescimento, de companheirismo e proteção.Mas desejamos que o outro seja apenas a sombra que repete nossa falta afetiva já esquecida ou simplesmente mascarada pelas nossas crenças distorcidas do que deve ser o amor.Reaprender a amar, descobrir os nossos erros e acertos deve ser um exercício cotidiano. Implica em coragem para enfrentar nossos fantasmas e medos tão cuidadosamente ocultos durante tanto tempo assim como em humildade em reconhecer o quanto podemos estar contribuindo para que nosso pretenso desejo de felicidade amorosa não se realize ainda que culpar o outro seja sempre mais fácil. 

Autoria Cinthya Bretas

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